segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Coprofagia Canina




É muito comum no consultório a reclamação de que o cão está comendo fezes, as vezes são suas próprias e as vezes, de outros animais. Há uma atração natural do cão por fezes de animais herbívoros (cavalos e bovinos), principalmente aqueles cães que estão com deficiências nutricionais. Consideram-se normais aquelas fêmeas que fazem a higiene de seus filhotes ingerindo fezes e urina dos mesmos. A coprofagia é considerada anormal quando o cão ingere seus próprios excrementos ou de outros cães. Este comportamento inadequado ainda não foi completamente elucidado, no entanto existem algumas razões que exemplifico abaixo:

* coprofagia em resposta à punição por sujeira em local inapropriado, assim o cão faz a remoção das evidencias e não é punido;
* doença endócrina: hipertireoidismo, diabete mellito;
* coprofagia induzida pela administração de drogas como glicocorticóides e fenobarbital;
* doença que leve à assimilação de nutriente de forma insuficiente: enteropatia inflamatória ou parasitismo intestinal.

Verificamos alguns sinais clínicos nos pacientes coprofágicos:

·        Halitose (hálito com odor desagradável);
·        Sinais gastrointestinais: vômitos, diarréia, flatulência, eructação.

Sempre devemos fazer a diferenciação entre a coprofagia comportamental e a clinica. É possível diferenciá-las através do histórico do paciente, avaliação da dieta e do ambiente onde reside, manejo que os donos têm com o cão, exame físico completo e exames complementares. Quando for diagnosticada a coprofagia clínica, deve-se proceder ao tratamento da patologia pré-existente a fim de resolver a ingestão fecal.
Quando o problema for comportamental exclusivamente podemos:
·        Proceder à limpeza dos excrementos logo que o animal defecar;
·        Passear com o cão a fim de que defeque na rua, caso venha a querer mesmo assim ingerir as fezes, utilizar focinheira para retirar o hábito;
·        Oferecer um petisco logo após defecar, assim aguardará sempre a recompensa não associando mais o momento com a ingestão fecal;
·        Uso de medicações específicas a fim de tornar as fezes desagradáveis à ingestão.


Também verificamos inúmeros relatos de proprietários que utilizam abóbora na dieta, assim conseguiram que seus cães encerrassem esse hábito desagradável, mas não temos comprovação científica a respeito desse uso.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Pancreatite

O pâncreas é um órgão responsável pela produção de enzimas digestivas e alguns hormônios. Tais enzimas digestivas fazem a digestão de carboidratos, proteínas e gorduras. Os hormônios produzidos pelo pâncreas são:

* insulina: responsável pela redução do nível de glicose sanguíneo;
* glucagon: responsável pela elevação do nível de glicose sanguíneo;
* somatostatina: controla a liberação dos dois hormônios anteriores.

O pâncreas se localiza próximo ao estômago e ao duodeno no abdômen do cão. Devido a sua importância na digestão e na produção de hormônios, as patologias do pâncreas possuem significativa relevância na prática clínica.


Localização do pâncreas no corpo do cão.

Visão do pâncreas em corte longitudinal.

A pancreatite é a inflamação do pâncreas, pode ser dar de forma aguda ou crônica. Essa inflamação pode levar a quebra dos mecanismos de defesa que impedem que o pâncreas seja digerido por suas próprias enzimas digestivas, assim ocorre um processo de autodigestão.

Quando ocorre pancreatite, vários sistemas do corpo do cão podem ser acometidos:
1.                      Gastrointestinal: a inflamação do pâncreas pode comprometer o estômago e intestino que estão próximos levando à redução na motilidade de ambos;
2.                      Hepático: pode ocorrer comprometimento pelo vazamento de enzimas do pâncreas ao fígado e vesícula-biliar;]
3.                      Respiratório: pode ocorrer edema pulmonar em decorrência da pancreatite;
4.                      Cardiovascular: podem ocorrer arritmias cardíacas pela liberação de determinados fatores pancreáticos;
5.                      Hematológicos (sanguíneos): a coagulação sanguínea pode ser ativada sem ferimentos ou lesões.

Essa doença geralmente acomete animais adultos por volta dos 6 – 7 anos de idade. Verificamos que os sinais clínicos mais comuns são:
# Letargia, inapetência;
# Vômitos;
# Perda de peso;
# Dor abdominal;
# Diarréia.

As causas da pancreatite ainda não são totalmente conhecidas, mas verificamos que dietas ricas em gorduras e proteínas podem predispor o animal. Outros fatores como administração errônea de medicamentos também podem predispor ao problema, assim como agentes infecciosos como a toxoplasmose.

Alguns fatores de risco são arrolados como causadores da pancreatite: obesidade, diabetes melitus, síndrome de Cushing e insuficiência renal crônica.
O diagnóstico é realizado via exames de sangue (hemograma e bioquímica sanguinea) e exames de imagem (rx e ecografia).

O tratamento da pancreatite é hospitalar, com administração de medicações e fluidoterapia intensiva. O cão é mantido em jejum total por até 5 dias a fim de reduzir a produção de enzimas pancreáticas,  e depois pequenas quantidades de alimento são introduzidas lentamente.

O prognóstico da pancreatite é reservado para os casos em que ocorre necrose ampla do pâncreas, mas para os demais casos geralmente o prognóstico é favorável. As falhas no tratamento geralmente ocorrem com a alimentação prematura do paciente, antes de o pâncreas estar totalmente recuperado e apto para produzir enzimas novamente.

Imagem mostra processo inflamatório na porção central do pâncreas (pancreatite)