terça-feira, 13 de março de 2012

Demodicose Canina (Sarna Demodécica)


Definição: é uma dermatopatia (doença de pele) causada pela multiplicação do ácaro chamado Demodex.

                                           Demodex canis (agente causador da demodicose)

Agente: o Demodex canis é da fauna comum da pele do cão, assim todos os cães são portadores do ácaro, o que os diferencia é a capacidade de controle de sua multiplicação. O ácaro vive no folículo piloso do cão e eventualmente está presente nas glândulas sebáceas da pele. Tem ciclo vital que compreende a fase de ovo, larva, ninfa e adulto e tem em média 30 dias para se completar.
Etiologia (causa): não se tem claro o que faz com que os ácaros proliferem, mas suspeita-se de alterações genéticas e imunológicas. A doença não é contagiosa entre cães adultos, sendo uma disfunção do organismo do cão com ausência de controle na multiplicação do ácaro.
Demodicose Localizada: geralmente acomete cães com menos de 1 ano de idade que ainda não tem a imunidade totalmente pronta, apresentando lesões na cabeça, pescoço e patas. As lesões consistem em pequenas áreas com ausência de pêlos, descamação, escurecimento da pele e prurido (coceira).
Demodicose Generalizada: pode ocorrer no cão jovem ou no cão adulto, consiste no aparecimento de lesões de típicas da demodicose por todo o corpo do cão. Geralmente verificamos a presença de infecções secundárias com presença de bactérias ou fungos no local.          
Diagnóstico: é realizado através do histórico do cão, sendo que se observa a família do paciente verificando a presença de demodicose familiar. Algumas situações específicas podem estimular a alterações imunes e manifestação de demodicose naqueles cães menores de 1 ano ou com a forma generalizada da doença, como por exemplo: estresse, desnutrição, estro (cio), parto e doenças concomitantes (gripe por ex). Assim poderemos ter um cão com a forma generalizada da doença que está em equilíbrio sem apresentar lesões, em um determinado momento se ficar gripado (tosse dos canis) pode vir a apresentar lesões da demodicose pela queda da imunidade resultante do processo gripal. A coleta de raspado profundo de pele (EPP – exame parasitológico de pele) deve ser realizada nas camadas profundas da pele para que o ácaro seja coletado adequadamente. Também podemos fazer uma biópsia cutânea como diagnóstico, principalmente naqueles casos de EPP negativo e com forte suspeita clínica da doença.

                                Coleta de EPP – exame parasitológico de pele

Tratamento Demodicose Localizada: geralmente é uma infecção autolimitante, ou seja, se não for tratada pode reduzir espontaneamente em até dois meses. O risco de não realizar o tratamento é de outras infecções oportunistas se instalarem e piorarem todo o quadro. O tratamento pode ser tópico ou sistêmico conforme a intensidade do quadro.
Tratamento Demodicose Generalizada: o tratamento é realizado com uso de shampoos, medicações por via oral e tópicas. Muitas vezes fatores predisponentes devem ser controlados no ambiente a fim de evitar reincidência da doença. Outras infecções oportunistas podem ocorrer concomitantes com a demodicose generalizada, assim também devem ser tratadas.
Na rotina clínica, nos deparamos com muitos casos de demodicose localizada que são facilmente resolvidos e não comprometem a vida futura. Mas muitas vezes os proprietários se assustam bastante diante do diagnóstico, principalmente por informações errôneas vistas na internet. Assim o post tem o intuito de tranqüilizar esses donos de bulldog, tendo a certeza de que o problema de seus cães será solucionado..


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Lipoma

O lipoma é um tipo de neoplasia originária dos adipócitos (células de gordura). Pode surgir como uma massa única ou múltipla, tendo preferência por locais como o tórax e membros anteriores. Geralmente se localizam no subcutâneo (logo embaixo da pele), são moles, não aderidos, e facilmente removíveis via cirurgia. Os lipomas são tumores benignos, muito comuns em fêmeas idosas castradas.  
O diagnóstico é feito através do exame clínico do paciente e exames complementares. Na consulta através do exame físico, o veterinário determina qual a melhor forma de proceder para fazer o diagnóstico adequado. Assim poderá solicitar:
·         Raio x do local;
·         Ecografia;
·         Exames de sangue para check up geral;
·         Biopsia aspirativa do local;
·         Encaminhamento para cirurgia e posterior biopsia do tumor.
Opta-se pela cirurgia conforme a localização, tamanho e dúvidas sobre o diagnóstico. Essas dúvidas podem surgir quando os demais exames não foram conclusivos na confirmação do tipo de tumor.
O caso relatado via fotos é de um cão SRD, porte grande, de nove anos de idade, encaminhado de um abrigo. Apresentava aumento de volume no membro anterior esquerdo na região axilar, não se tem informações sobre o ritmo de crescimento do tumor. Essa massa estendia-se pela axila, tórax e dorso, sem haver comprometimento do movimento do braço esquerdo do paciente. O cão apresentava desconforto no local à manipulação e distensão da pele em vários pontos. Foi realizado raio x do local a fim de aproximar a extensão da neoplasia, verificou-se que envolvia apenas tecidos moles sem envolvimento ósseo e sem invasão do tórax. Os demais exames complementares permitiram que o paciente fosse submetido à cirurgia. Optou-se direto pela cirurgia sem biopsia aspirativa prévia em vista do tamanho avantajado do tumor e do desconforto apresentado pelo cão. Foi mantido um dreno no local pelo período de três dias. O paciente recebeu antibiótico, antiinflamatório e analgésicos. Uma amostra do material coletado foi enviada para exame histopatológico (biopsia) que indicou realmente lipoma. Os pontos foram retirados após 14 dias da cirurgia e o cão se recuperou totalmente.

Aspecto do lipoma antes do procedimento

Aspecto do lipoma antes do procedimento

Início do procedimento

Aspecto do lipoma durante a retirada

Aspecto do lipoma durante a retirada

Lipoma sendo cuidadosamente excisado

Tumor após retirada total da região axilar

Espaço morto gerado após excisão do lipoma

Colocação do dreno

Paciente em recuperação anestésica



sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Fisioterapia Veterinária


Bulldog fazendo hidroterapia - ajuda no condicionamento fisico e perda de peso

A fisioterapia vem sendo cada vez mais utilizada em cães e gatos com excelentes resultados. Suas aplicações clínicas visam à recuperação, manutenção e promoção do organismo do paciente em termos de funcionalidade. Seu principal objetivo é a melhora da função física e qualidade de vida. A fisioterapia é amplamente utilizada em cães em recuperação após procedimentos cirúrgicos ortopédicos, em processos de fortalecimento muscular, no controle de doenças degenerativas ou crônicas, entre outros.
O fisioterapeuta veterinário utiliza várias técnicas na recuperação dos pacientes como terapia manual, alongamento, massagem e movimentação articular. Outras técnicas também podem ser associadas à terapia manual como a termoterapia e eletroterapia. O veterinário avalia o animal e reúne dados para criar um plano de reabilitação física. Essa avaliação é feita com o paciente em movimento e em repouso, e através do exame no local da lesão. O plano terapêutico é traçado individualmente e não pode ser generalizado, assim a avaliação individual torna-se muito importante. Geralmente inclui exercícios físicos específicos combinados às modalidades térmicas ou elétricas, conforme a necessidade de cada paciente. Além do aspecto curativo, a fisioterapia tem um aspecto preventivo de lesões. Em cães de competição, e execução de técnicas para evitar lesões durante as apresentações se mostram bastante eficazes. O fisioterapeuta traça um plano de controle de peso, troca do piso do local onde o cão fica, a redução ou aumento da atividade física, entre outros.
Em bulldogs as lesões mais comuns nas quais a fisioterapia tem importante papel incluem cirurgia de ruptura de ligamentos do joelho, cirurgia para a correção de fraturas, doenças crônicas como a osteoartrite, cirurgia na cabeça do fêmur (a mais comum é a cefalectomia) e cirurgia para correção de luxação patelar.

Labrador em Eletroterapia

Daschund fazendo fisioterapia em esteira aquática

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Medicamentos tóxicos e outras substâncias

Muitos produtos e medicações comumente utilizados podem causar alterações em alguns órgãos como o fígado. As lesões aparecem geralmente quando esses produtos são administrados sem controle. O fígado é bastante comprometido em casos de intoxicação, já que tem papel importante no metabolismo do organismo. A suscetibilidade a determinadas lesões é de acordo como a idade do animal, nutrição, espécie (cão ou gato), tipo de medicamento ou tóxico utilizado, doenças concomitantes e fatores hereditários. Os gatos são mais sensíveis à intoxicação e têm maior dificuldade de reversão do quadro. O risco é maior para pacientes caninos ou felinos com idade inferior a quatro meses, pois estes apresentam um fígado imaturo e incapaz de debelar determinadas intoxicações.

Os principais sinais clínicos incluem vômito, diarréia, icterícia (aspecto amarelado do corpo) e mal-estar. As drogas listadas a seguir são aquelas com maior risco de intoxicação se administradas de forma errônea: Paracetamol (uso proibido em gatos e contraindicado em cães), Carprofen, Fenobarbital, Glicocorticóides, entre outros. Outras substâncias como compostos clorados (água de piscina, por exemplo) e aflatoxinas (presentes em rações vencidas ou mofadas) também podem levar a danos hepáticos.

O diagnóstico é feito através do exame clínico e histórico do paciente, exames de sangue e se for necessário ecografia abdominal. O tratamento é realizado com internação do paciente, manutenção em fluidoterapia (soro endovenoso) e administração de medicações para minimizar sintomas. Muitas vezes o paciente leva mais de 7 dias para iniciar a recuperação. O prognóstico varia de acordo com o grau de intoxicação, muitas vezes o animal torna-se portador de insuficiência hepática por conta das lesões que o fígado sofreu.

Assim ficam as dicas:

·                        Evitar administrar medicações aos animais por conta própria, mesmo que tratamento similar tenha sido feito anteriormente ou com cão de algum amigo;
·                        Verificar data de validade dos alimentos que o cão consome e estado de apresentação;
·                        Evitar que o cão beba água da piscina;
·                        Evitar que o cão tenha acesso à gaveta de medicações da casa;
·                        Não aceitar dicas de pessoas não capacitadas sobre medicamentos e tratamentos.


Lembrar que o banho de piscina tá liberado, desde o cão não beba água daquelas piscinas que passam por tratamento com cloro. Outras piscinas pequenas que se utilizam da água da torneira não há problema.

Sempre verificar se a ração está dentro da validade e se está com aparência boa, caso pareça estar mofada não deixar o cão consumir.


Evitar deixar medicações ao alcance do seu cão, mesmo tendo um sabor desagradável, muitas medicações despertam interesse.


sábado, 5 de novembro de 2011

Gorda após recuperação da cirurgia



Amigos, cerca de um mês depois do resgate da Gorda e de sua complicada cirurgia, posto fotos dela recuperada. Esse trabalho de resgate de bulldogs, recuperação, tratamento e manutenção só é possivel pela parceria entre a Clínica Saúde Animal (minha clínica) e a Bullfashion (pet da Sueli Camargo). Agradeço de coração ao esforço de todos e a disponibilidade da Su de manter esses cãezinhos em recuperação sob seus cuidados. Aqui nosso trabalho é conjunto: os cães são resgatados, eu forneço o tratamento como cirurgia, medicações e vacinas (tenho o auxilio da colega e amiga Patrícia Pires) e a Su ampara eles em sua casa fornecendo alimentação, carinho e proteção. Depois de recuperados é feita a seleção dos futuros pais e assim encaminhados às novas familias. É um trabalho que dispende tempo e investimento, mas o retorno que temos é tão grande que compensa qualquer dificuldade.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Tumor de mama em bulldog


O tumor de mama é uma das neoplasias mais comuns em fêmeas adultas ou idosas. O risco é agravado nas seguintes situações:
·           Animais não castrados – caso a fêmea venha a ser castrada antes do primeiro cio o risco é muito baixo (cerca de 0,5%), sobe para 8,0% caso seja castrada após o primeiro cio e chega a quase 30% caso venha a ser castrada após o segundo cio;
·           Fêmeas que receberam alimentação rica em gordura ou rica em proteínas como carne bovina ou suína antes do primeiro cio;
·           Pacientes que nunca tiveram filhotes e não foram castradas;
·           Fêmeas que receberam anticoncepcional (progestágenos exócrinos);
·           Pacientes com cistos ovarianos ou pseudogestação (gestação psicológica).
A cadeia mamária é formada por 4-5 mamas de cada lado, sendo que as mais acometidas pela neoplasia são as duas mamas caudais. O diagnóstico é realizado pelo exame clínico e histórico da paciente. O tratamento de eleição é a retirada cirúrgica de uma das cadeias mamárias e se possível castração concomitante. Caso as duas cadeias mamárias estejam comprometidas são necessários dois procedimentos cirúrgicos para resolução total. Sugere-se que o material seja enviado para biópsia a fim de determinar o tipo de tumor e prognóstico. Também temos opção de quimioterapia, radioterapia e imunoterapia em alguns casos.
Antes do procedimento, é necessária a realização de exames complementares. O raio x de tórax é muito importante para determinar a existência de metástases pulmonares e assim avaliação do risco trans-operatório. Exames de sangue também se fazem necessários, assim como check up cardíaco. Muitas vezes quando são diagnosticadas metástases pulmonares com comprometimento severo da função respiratória, opta-se pela não realização da cirurgia. Nesses casos o risco no trans-operatório é muito grande e a qualidade de vida pós-operatória fica comprometida.
O prognóstico varia de acordo com o tipo de tumor e grau de evolução. Assim a melhor forma de prevenção está na castração precoce quando não houver intenção de reproduzir, evitar uso de anticoncepcionais injetáveis ou orais, palpação freqüente da região, alimentação balanceada e revisões periódicas no veterinário.
Fotos: a bulldoguinha amada da foto chama-se Gorda, tem 9 anos e foi vítima de maus-tratos e abandono. Veio à clínica recentemente apresentando um tumor de mama grande sem comprometimento pulmonar ao raio x e sem alterações ao exame de sangue. Foi adotada por nós e realizou a primeira cirurgia, se recupera bem. Agora ela está mais gordinha e bem mais feliz.
Aspecto do tumor de mama antes da cirurgia

Aspecto do tumor de mama antes da cirurgia

Depois da cirurgia, durante a troca de curativos

Após a troca de curativos passeando na clínica

Ganhando um abraço apertado, minha fofa.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Cistite

A cistite consiste na inflamação da bexiga, é uma vesicopatia muito vista na rotina clínica. Podemos ter várias razões para o seu surgimento:
* origem bacteriana: a contaminação bacteriana pode ocorrer pela migração de bactérias das fezes para a uretra e bexiga. Muito comuns em fêmeas após o cio e em machos e fêmeas que têm o habito durante a micção de contatar o chão ou outra superfície, assim propiciando a entrada de bactérias. Também temos algumas patologias renais que podem levar a cistite;
* origem medicamentosa: cães que estão em tratamento com quimioterápicos podem apresentar cistite tanto pela ação do quimioterápico no local quanto pela redução da imunidade;
* secundária a outras doenças: algumas patologias podem ser responsáveis pelo surgimento da infecção como vemos em casos de diabete mellitus que pode gerar um quadro chamado cistite enfisematosa;
* tumores e cálculos: a presença destes pode gerar lesões na parede mucosa da bexiga e propiciar o surgimento da cistite;
* origem fúngica: cães imunodeprimidos podem ser mais suscetíveis à contaminação por fungos e seu crescimento no interior da bexiga.
A cistite pode se apresentar de forma aguda com surgimento repentino ou forma crônica com quadros que se estendem por mais tempo. Os sinais clínicos observados incluem aumento da freqüência de micções, febre, odor desagradável da urina e prostração. Em casos de cistite hemorrágica ou tumores vesicais, a urina pode ser composta na sua maioria por sangue vivo ou coágulos. Em casos de cálculos vesicais a urina pode ter a presença de sangue e de pequenos cristais semelhante à areia.
O diagnóstico é realizado pelo exame clínico do cão, ultrassonografias abdominais e exames de urina e de sangue. Para a cistite bacteriana o tratamento é realizado com uso de antibióticos e exames de controle. Nos casos de cálculos vesicais se faz além da medicação, alterações na dieta com introdução de ração especial e, se necessário, cirurgia para retirada dos cálculos. Quando a cistite é gerada pela presença de tumores, indica-se procedimento cirúrgico e biópsia do material.
O prognóstico da cistite varia de acordo com o caso, mas em geral cistites bacterianas têm resolução simples e rápida, enquanto os tumores têm um prognóstico que varia de acordo com seu tipo e classificação.
A prevenção pode ser feita oferecendo ração de boa qualidade, de preferência sem muitos petiscos e evitando totalmente alimentos humanos. A higiene também é importante, principalmente em fêmeas no cio com limpeza do local e banhos regulares.


Nos casos de cistite, ocorre um espessamento da parede da bexiga com inflamação e redução do interior, por isso os cães têm necessidade de urinar com maior freqüência e em pequena quantidade.